Camisa & Camisinha & Camisola
Pense num absurdo, num despropósito, num atróiamento! É assim, tal e qual o acontecimento vivenciado nos penúltimos dos últimos momentos do consumido ano de 2011 que não deixou saudade. Como exemplos só de raspagem que derrocada + grave do que ocorreu com o Vozão? E as greves? E com a desvalorização do dólar, do euro a turma falou: - Vai-te ano velho, velhete sem expressão, sem tesão!
E foi aí na virada, passando, trocando de um pro outro e de um pelo outro que o Piedade, morador do bairro da piedade, ah bairrista até no nome! Viveu momentos estreitos. Movido pelo merchan televisivo, oral, palatal, via telefone celular, I Phone, I Pod, twitter e o raio da mídia entranhado no povo chamando, clamando, ora ordenando: “todos ao show pirotécnico na praia.”
Ele não vacilou, mergulhou de cabeça, quase perdeu os chifres, mas foi. Chifres? Que nada, ele tem é calos lembrou! Esta ideia de ir de branco já era, é coisa de besta, de matuto, pensou: - Eu vou é do meu jeito, fica aquela multidão toda de beca branca, otários, não resulta em nada, nada melhora, nada a não ser o comércio que fatura, fatura e utiliza todo o tecido branco provindo em forma de lixo, lixo-tecido-branco, roupa ex-hospitalar descartada pelos EUA, matéria-prima de indumentária do réveillon do Brasil.
Piedade raciocinou rápido e sintetizou: - Vou com a camisa do meu time, VOOOOZÃÃÃO apesar dos pesares. E foi. Deparou-se com aquela multidão que ia de 1 a 2 milhões de pessoas. Era gente toda de branco. O show comia de esmola, no palco gigantesco, erguido, sustentado por toneladas de tecnologia lá nas alturas. A ostentação cegava quem ousasse visualizar. E o povo na areia... Areia quase parecia movediça, o povo atolado na areia, areia nos pés, no meio, na cara, nos ouvidos, mas de olhos bem abertos vidrados no espetáculo, o povo gosta de circo, pão e festa. Festa é bom!
A contagem regressiva fazia a cronometragem e haja expectativa, ah! Isso não pode faltar num grande evento! E lá vem o show pirotécnico 24, isso mesmo ele...! Danado... 24T de fogos de efeitos especiais, importados, estrangeiros, coisa boa mesmo, um colírio. O espetáculo com duração de 15 min, mas deram uma cortesia de um tiquinho a mais.
Piedade, mero expectador, ficou confuso. Não sabia se olhava o espetáculos dos fogos ou pulava as 7 ondas e fazer os pedidos à brasileiríssima rainha H2O Iemanjá e saudar a calunga. Como já vira aquele filme antes, tudo igual sem tirar nem por, optou pelo outro. Pensou alto: - 15 min isso + parece ostentação, é money que besta não conta enquanto eu sou graduado e vivo atrelado a um mísero salário-mínimo, deixa pra lá... Quem mandou eu nascer desprovido de um lar político...? Vá comendo idiota!
Piedade indiferente foi em busca das 7 ondas, lá estava muita gente com o mesmo propósito, o povo pulava, caia, pedia lambuzados de areia em cada poro, desequilibrados, choravam e pediam, pediam, as quedas eram de todo o tipo, calcinhas à mostra, outros queixavam-se de calor, um canalhismo movido a álcool, alegria, tristeza e depressão, mas era ano novo criatura.
Piedade foi lá, arrancou de vez a camisa e jogou no mar fazendo em seguida o pedido pro VOZÃO se reerguer. O que? O mar trouxe de volta e pôs nos seus pés. Ele ignorou, tascou outra vez até a7ª. Nada, nada. DE VOL VI DI NHAAAAA! Aí ele se irritou, ficou triste, chorou! Aí um cara que tudo observou veio lá todo de branco, bateu no ombro do rapaz dizendo: - Amigo, desista. Iemanjá devolveu a camisa, seus pedidos não serão atendidos, eu sou pai de santo, entendo disso. Piedade desolado pegou a camisa repleta de areia, trouxe na mão até em casa.
A mãe vendo o filho em tamanha tristeza foi lá tirar um dedo de prosa. Ele relatou o ocorrido à mãe. Tudo, tudo que vira, ela não deu tanta importância aos fatos e disse: - Meu filho fique frio, fé em Deus, isso é folclore e quanto ao pai de santo ele deve ser açougueiro que também usa branco. Agora você vai me ouvir filho, escute aqui, raciocine comigo: Iemanjá está em sua casa, a casa é inviolável, o lar. Então, ela na qualidade de rainha estava de saco cheio, mal humorada, incomodada pelos decibéis acima do permitido. Ora pedidos e mais pedidos, toneladas de tralhas jogadas pra ela num gesto indelicado. Então, ela estava de saco cheio filho, sua blusa não encontrou mais lugar. Seja razoável, tolerante meu filho, compreenda.
- E tem mais, Iemanjá já vem sendo provocada pela poluição sonora e hoje principalmente e no planeta total. Veja bem. Quando o Luciano Huck veio gravar o programa férias de verão do caldeirão, no Porto das Dunas, trouxe uma parafernália de equipamentos, foi lá fez pedidos e colocou uns barquinhos no mar. Aí 2 ou 3 foram devolvidos. - E o que ele pediu mãe? – Não se sabe ao certo, mas dizem que ele pediu gametas ♀, reaver seu Rolex e pediu melhor estética para seu nariz (isso aí só com cirurgia plástica). Como você vê o povo incomoda!
- Eu pensei que você tivesse jogado uma camisinha, aí eu já ia descordar... A ecologia filho! É isso aí tente de novo.
- Vou tentar outras vezes.
- É assim que se fala.