Artigo III

01/01/2012 14:19

    da Lotação

           Caboco era o nome de guerra do boia fria que trabalha há anos no corte de cana numa propriedade próxima à cidade grande onde ele morava. Tinha como profissão, cortador de cana, um trabalho árduo quase desumano, quase... Se não fosse o mísero salário que recebia sem nenhuma garantia trabalhista, mas, era o que ele sabia fazer desde sempre focado no trabalho do pai.

            A rotina era miserável, acordava às 3 da madrugada, preparava a marmita com feijão & arroz, + arroz visto que o preço deste está abaixo do preço do feijão. E lá vai Caboco pra parada do busão que mesmo cedo já vai lotado tipo sardinha, segure-se quem puder. Há anos fazendo o percurso, Caboco calculava, mentalmente, a hora de chegar ao trabalho, o patrão não disponibilizava  acomodação pra ninguém pernoitar por lá, nem tampouco fornecia refeição, o ganho era tão irrisório que faz vergonha citar.

            O patrão fazia questão de fiscalizar o trabalho e todos os dias logo cedo citava o refrão: “Quem não tiver satisfeito pegue o beco!” Tem quem queira a vaga, emprego tá difícil. Ninguém dizia nada. Caboco dava graças a Deus ter por certo esse trabalho escravo, pior seria ficar sem nada, pensava.

            Chegou em casa, teve a ideia de comprar um cacho de bananas e levar de presente para o patrão, pois apesar dos pesares ele sempre lhe concedeu o trabalho desde adolescente, de qualquer modo era um jeito de agradecer sem demonstrar. Foi ao mercado, fez a compra, botou lá num canto até a hora do embarque. A mãe comunicou ao filho que iria fazer sua marmita um pouco diferenciada, assim aconteceu. (Atrás do pobre anda um bicho...)

            Tudo nos conformes, Caboco sai em busca da condução levando o cacho de bananas, todas madurinhas, amarelinhas e apetitosas. Ele imaginara o patrão degustando as vitaminadas bananas escolhidas no capricho como se tivessem passadas pelo controle de qualidade de exportações dentro dos rigores das leis que regem o mercado da oferta e da procura.

            Na hora exata de sempre, lá vem o busão. Parou. Caboco adentrou e sentiu que a lotação estava excessiva, botou um pé no piso de dentro e o outro ficou levantado sem ter lugar onde botar o pé e com o monstrengo cacho de bananas nas costas tirando-lhe o fôlego sem o direito de ficar ereto, ficou curvado, corcunda, sufocado pelo peso, com a mão segurava o peso e com a outra a marmita. Não tinha como segurar-se nas alças de apoio, nem nas laterais dos assentos. Caboco avançou um pouco empurrado pelos outros que se apertavam uns contra os outros. Com grande esforço ele já se encontrava quase no ½ no busão, foi quando a turma se deu conta que ali havia um cacho de bananas.

             Aí começo o saque. Pega daqui, dali, puxa pra lá, pra cá, derrubaram o Caboco, pisotearam, esfolaram, gente caindo, escorregando nas cascas de banana, limpavam as mãos e a boca esfregando as sobras das cascas nas cadeiras, nas laterais do ônibus, a essa altura alguém gritou: - Um assalto motorista! Ao ouvir o alarido não teve escolha, aumentou a velocidade e os passageiros passaram a cair e gritavam, choravam pedindo socorro, o motorista responde: - Ninguém entra ninguém sai. E chinelou.

             A essa altura, Caboco foi empurrado lá pra baixo de uma cadeira sem nada. Nem banana, nem marmita escapou, fora destruída pisoteada, amassada pelos pés dos ocupantes do veículo e lá do escurinho debaixo da cadeira Caboco buscava com o olhar as iguarias que a mãe num gesto de amor tinha preparado para ele, tudo havia se misturado ao que restara do cacho de bananas.

            Caboco chegou atrasado no corte de cana, mas trabalhou.Passou um dia de fome braba, só bebeu água, não falou nada a ninguém, nada pediu. Era pouco notado, indiferente. Fim do dia retornara só vivo, a fome e o cansaço invadiram-lhe o corpo, a alma, os pensamentos. A mãe o esperava, foi logo perguntando: - E aí meu filho gostou do almoço? – Não vi nem um tiquinho de nada mãe. – Como assim, e a sua lingüiça filho? Foi rasgada, estraçalhada, esfolada, esfarelada, tirada a pele, um horror!  E os ovos? Eeee estes coitados! Foram pisoteados, chafurdados, esculhambados, massacrados, eu só escapei com vida porque me empurraram pra debaixo de uma cadeira, fiquei lá espremido entre o piso e um ferro, tô aqui descadeirado, eu acho que enfiaram um troço em mim, um cano, um pau de vassoura, uma coisa muita dura que eu tô me sentindo quengado, coisado, bulinado.

            Eu não agüento nem me sentar, ai, ai, ai... Eu acho que eu tô é doido... Olha aqui mãe, DAR nunca mais. Até a cueca foi rasgada, aquilo lá era um bando de tarados, estavam na secura, o diabo que os carreguem. Aloprados! Da próxima vez, vou levar um estilete, uma navalha, umas bandas de gilete, uma flecha envenenada pra retalhar, esfolar, golpear, fazer picadinho nos FIOFÓS e CIA deles, médico nenhum vai dar jeito no estrago. Me aguardem.

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